Oração do Idoso

“Bem-aventurados aqueles que compreendem meus passos vacilantes e minhas mãos trêmulas

Bem-aventurados os que levam em conta que meus ouvidos captam as palavras com dificuldades, por isso falam mais alto e pausadamente

Bem-aventurados os que percebem que meus olhos já estão nublados e minhas reações são lentas

Bem-aventurados os que desviam o olhar, simulando não ter visto o café, que por vezes, derramamos sobre a mesa

Bem-aventurados os que nunca dizem: “Você já contou isso tantas vezes”

Bem-aventurados os que sabem dirigir a conversa e as recordações às coisas dos tempos passados

Bem-aventurados os que me ajudam a atravessar a rua e não lamentam o tempo que me dedicaram

Bem-aventurados os que compreendem quanto me custa encontrar forças para carregar minha Cruz

Bem-aventurados os que amenizam os meus últimos anos sobre a Terra

Bem-aventurados todos aqueles que me dedicam afeto e carinho, fazendo-me pensar em Deus.

Quando entrar na Eternidade, lembrar-me-ei deles, junto ao Senhor.”

As Sete Lágrimas de um Preto Velho

“Num cantinho de um Terreiro, sentado em seu banquinho e pitando o seu cachimbo, um triste Preto Velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pela face. Não sei porque, as contei… Foram Sete. Na incontida vontade de saber, aproximei-me e o interroguei:

– Fala, meu Preto Velho, diz a teu filho por quê tu externas assim, tão visível dor?

E Ele respondeu:

– Estais vendo essas pessoas que entram e saem? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.

A Primeira, eu dei a essas pessoas indiferentes, que aqui vêm em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber…

A Segunda, a esses eternos duvidosos que acreditam desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam…

A Terceira, distribui aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante…

A Quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela, de qualquer forma, e não conhecem a palavra Gratidão…

A Quinta, chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios, mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na Umbanda, nos seus Caboclos e no seu Zambi, mas somente se resolverem o meu caso ou curarem a minha doença…

A Sexta, eu dei aos fúteis, que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada…

A Sétima, filho, notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessa, aos Médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dias de festas e faltam à Doutrina. Esquecem que existem irmãos precisando de Caridade, e tantas criancinhas precisando de amparo material e espiritual.

Assim filho, foi para esses todos que vistes cair, uma a uma: As sete lágrimas de um Preto Velho.”

Prece de Ogum

“Pai, que minhas palavras e pensamentos cheguem até Vós em forma de Prece e que seja ouvida. Que essa Prece corra Mundo e Universos e chegue até os necessitados, em forma de conforto para suas dores. Que corra os quatros cantos da Terra e chegue aos ouvidos dos meus inimigos, em forma de brado e advertência, de um filho de Ogum que sou e nada temo, pois sei que covardia não muda o Destino.

Ogum, Padroeiro dos Agricultores e Lavradores, fazei com que as minhas ações sejam sempre férteis, como o trigo que cresce e alimenta a Humanidade nas suas Ceias Espirituais, para que todos saibam que sou Teu filho.

Ogum, Senhor das Estradas, faça de mim um verdadeiro andarilho e que eu seja sempre fiei caminheiro, seguidor do Teu Exército e, que nas minhas caminhadas, só aconteçam vitórias e, mesmo quando aparentemente derrotado, eu seja um vitorioso, pois nós, os Vossos filhos, não conhecemos derrotas, porque sendo o Senhor, o Deus da Guerra, nós Vossos filhos, conhecemos a luta, como esta que eu travo agora, embora sabendo que é só o começo, mas tendo o Senhor como meu Pai, a minha vitória será certa.

Ogum, meu Grande Pai Protetor, faça com que o meu dia de amanhã seja tão bom quanto o de ontem e hoje, que as minhas estradas e no meu jardim, só existam flores, que meus pensamentos sejam sempre bons e, que aqueles que me procuram, consigam sempre, remédios para os seus males.

Ogum, Vencedor de Demandas, que todos aqueles que cruzarem a minha estrada, que cruzem com o propósito de engrandecer, cada vez mais, a Ordem dos Cavalheiros de Ogum.

Pai, daí luz aos meus inimigos, pois se eles me perseguem, é porque vivem nas trevas e, na realidade, perseguem a Luz que Vós me destes.

Senhor, me livra das pragas, das doenças, das pestes, dos olhos grandes, da inveja, das mentiras, das vaidades que só levam à destruição. E que todos aqueles que ouvem esta Prece e, também, aqueles que a tiverem em seu poder, estejam livres das maldades do mundo.

Ogum, que eu possa sempre dizer para aqueles que me pedem a benção: Meu Pai lhe Abençoe!”

A Intuição

Talvez a linguagem mais interessante que nossa mente nos fornece seja a intuição, esta percepção profunda que se nos dá, trazendo a sensação de que já sabemos ou que obtemos a resposta bem antes de tomar qualquer decisão ou ação.

Chamamos a intuição de a “Voz do coração”, esta primeira mensagem que recebemos quando pensamos em algo ou em alguém. Normalmente, logo a seguir, vem a mensagem fria do nosso raciocínio cartesiano negando nossa intuição ou fazendo pouco caso do conteúdo que ela nos traz. E assim perdemos uma comunicação preciosa de quem está conectado com o grande Universo dentro e fora de nós.

Na verdade, foi ouvido a voz da intuição que muitas pessoas deixaram de embarcar em aviões que acabaram caindo, outras trouxeram para nós invenções importantes, além de muitos diagnósticos que são feitos tendo na sua base esta sensação de que “sei o que é isso. Não com meu raciocínio, mas com o meu coração”.

Parece incrível que o ser humano tenha desprezado por tantos séculos esta fantástica forma de nos relacionarmos com as fontes divinas de informação e cura. Até hoje isso acontece entre as pessoas. O intuitivo é desprezado nas grandes corporações como aquele que “fala umas coisas que não podem ser provadas cientificamente”, e mais tarde acabamos por ver que aquela ideia que o intuitivo tinha apresentado era realmente uma ideia muito à frente do seu tempo e que, com certeza, iria funcionar caso fosse aplicada.

Mas como fazer para provar a intuição? Não me ocorre uma forma. Talvez você possa sugerir alguma. Como fazer para ensinar às pessoas a intuição? Claro que somos todos intuitivos por natureza e basta que soltemos as amarras do julgamento e das crenças preconceituosas para ouvir esta voz do coração. Mas como dizer às pessoas: confie nesta voz, siga esta voz, acredite naquilo que é seu. Fuja daquilo que querem fazer você acreditar.

Perceba o movimento que seu corpo faz quando alguém que não vai lhe fazer bem aproxima-se. Perceba que sua mão se fecha, seus batimentos cardíacos disparam, seu corpo se afasta, sua testa se franze e tudo que você quer é correr para longe dali. Mas o que normalmente fazemos? Não damos atenção a esta forma de intuição e estendemos a mão para esta pessoa e falamos “muito prazer” quando o que queríamos dizer era: “não tenho nenhum prazer em conhecê-lo”. E ficamos por perto, almoçamos com ela e em alguns casos, acabamos nos tornando empregados desta pessoa, ou amigos ou amantes e as consequências disso não tardam a aparecer. Só que sua intuição já tinha avisado tudo isso no momento do encontro. Não teria sido mais fácil escutá-la?

Sei que não é fácil escutá-la. É preciso treinar, errar e acertar, e ter tempo para conferir os resultados. Enfim, experiência e confiança. Coisas que só ganhamos mesmo quando vivenciamos cada momento. Mas o importante mesmo é começar a praticar.

Por Izabel Telles